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Ivaldo Lemos Junior 
Promotor de Justiça do MPDFT

A configuração do poder político quase sempre apresenta um aspecto triangular. Seja em grupos menores e coesos, seja em grupos grandes e difusos (a diferença é que nos primeiros essa percepção é mais fácil), a estática do poder se equilibra nos vértices dos que mandam, os que deixam mandar e os que querem mandar. Em uma simplificação antropomórfica: machos ou fêmeas (se patrifocais ou matrifocais) alfa, beta e gama.

Os que mandam, os alfa, são os que têm poder. Os que lhe querer tomar o poder são os gama. Em linguagem corrente, falamos em “governo” e “oposição”. Um chefe sem nenhuma oposição tem tendências a liderar de maneira autoritária, e mais do que isso: totalitária. Nem todas as ditaduras são totalitárias. Por exemplo, no regime militar brasileiro existiram restrições políticas. Liberdade de pensamento e de reunião foram constrangidas, houve perseguições e torturas, mas não houve nenhuma ou quase nenhuma intervenção na vida privada. Já em Cuba, é o governo que determina onde as pessoas moram, em que trabalham e até o que comem.

O macho beta é aquele que não tem nem terá poder, por falta de vontade ou de inteligência, pela idade avançada ou problemas de saúde, ou então porque já o foi e não se saiu bem. Mas tem alguma proeminência no grupo, um certo destaque não desprezível. O seu apoio é decisivo para que o alfa chegue e continue no poder, ou, em uma reviravolta,
para que o gama desbanque o alfa. Em troca, é agraciado com favores e benesses, como bens materiais e fêmeas, praticamente o que puder ter em uma medida não abusiva.

Peguem essas ideias básicas ecomparem com a realidade. Apliquem à vontade: República Dominicana de Trujillo, coronelato do cacau de Gabriela, rancho californiano de Charlie Manson.

Jornal de Brasília - 24/2/2014

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