Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Existe uma categoria de advogado que é peculiar: a do “advogado famoso”. Com mais de 20 anos de prática como promotor público, sou testemunha privilegiadíssima do desempenho dos causídicos, e posso dizer que vi com os próprios olhos todos os tipos possíveis e imagináveis. Mas o que mais me desperta curiosidade é o tal “famoso”.
Alguns advogados famosos realmente têm qualidades. São famosos porque são bons, e não são bons porque são famosos. Mas a fama parece ser uma espécie de patamar que se atinge quando já se provou competência (só esta palavra, competência, merece vários artigos). Daí para frente é questão de desfrutar disso. É passar a impressão de que é uma honra para o cliente ser patrocinado pelo Dr. Fulano de Tal. Se a causa for vencida, todos os méritos são dele. Se não, é porque aconteceram inúmeras coisas que poderiam explicar a derrota; tudo, menos o brilhantismo do advogado, que já está consolidado e não se discute.
Não me interessa exemplificar meu raciocínio com nomes. Mas Vincent Bugliosi fê-lo em seu livro Outrage, que trata do processo do ex-jogador O.J. Simpson, acusado de matar a mulher e o amante em 1994.
Na verdade, o “caso O.J.” foi tratado como uma espécie de “julgamento do século”, talvez “o maior da história”. Ele era uma lenda esportiva do nível, aqui no Brasil, de um Zico, um Ronaldo Fenômeno, um Ayrton Senna. Imagine se algum desses se envolve em crime de sangue, com enredo para lá de picante, e ainda por cima com o ingrediente da questão racial.
Rico, célebre e querido – Simpson recebeu mais de 350.000 cartas de apoio ao longo do processo –, ele merecia um julgamento à altura. Eu mesmo estive na Califórnia no seu auge, em julho de 1995, e me ocorreu ir ao Forum, por curiosidade, mas logo percebi que isso estava fora de cogitação.
Jornal de Brasília - 31/3/2014