Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Já dissemos que pessoas, processos e produtos são fatores que coexistem de modo relativamente independente entre si, ou seja, não são isolados nem estão em conexão total. A passagem entre um e outro tem algumas particularidades complexas e interessantes. Por exemplo, o produto decorre do processo, mas não é dele necessariamente um fruto pronto para ser aproveitado. Sua maturação depende de outras coisas, alheias ao trabalho propriamente dito que o gerou, e a prova disso é que pode ser aprimorado, pelo próprio autor, ou por outras pessoas, de outras culturas e épocas.
Pode também, ser eliminado do mundo das ideias válidas. É positivo que uma teoria que vigorara por algum tempo – não importa se poucos anos ou milênios --, dê lugar a outra mais consistente. Isso significa evolução. Por outro lado, uma teoria que atinge o patamar de verdade indiscutível deixa de ser o que é, vale dizer, deixa de ser uma possibilidade de explicação da realidade e passa a ser um fato. A ciência cumpre o seu papel e se esgota. De um jeito ou de outro, a ciência mostra seu caráter intrínseco de precariedade.
Uma tese abandonada só não é bom para o próprio autor que, por motivos compreensíveis, não quer passar anos e anos – talvez a vida inteira – elaborando um projeto, para depois ser ignorado, tratado com desdém, ou acusado de ser repetitivo ou audacioso demais.
A tendência de reconhecimento de seu esforço pode ser inspirada por motivos banais (salário), mesquinhos (vaidade) ou nobres (generosidade). Nada impede que se misturem. Mas, generosidade pura, puríssima, essa não se encontra em canto algum. Quem tem informação guarda para si pelo menos uma parte. Conhecimento, afinal, é poder. Quem acha que intelectuais são pessoas sublimes e especiais, sinto informar, mas está muito enganado.
Jornal de Brasília - 28/4/2014