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Milton de Carlos Júnior  
Promotor de Justiça do MPDFT

Em Direito, comumente usamos a expressão ‘escolhas trágicas’ para designar situações em que, diante da falta de recursos, leia-se falta de dinheiro, temos que priorizar o atendimento de determinada necessidade em detrimento de outra.

Escolhas do tipo deveras são terríveis, traumáticas. Imaginem o drama que envolve fazer essas escolhas! Não deve ser fácil. Então, o adjetivo trágicas é apropriado.

Mesmo sendo comum o uso da expressão na área jurídica, isso não significa que não seja usada em outras. Certamente o é. Porém, o que se quer destacar aqui não é o seu uso em termos de linguagem, escrita ou falada, mas sua prática no dia a dia.

Nesse campo, não há exceção, sempre fazemos escolhas trágicas. O orçamento está apertado, por isso a reforma do banheiro precisa ser adiada a fim de que se possa pagar a mensalidade escolar. Exemplos do tipo são infinitos.

Ricos precisam fazer essas escolhas? Talvez não em razão de dinheiro, que não lhes falta. Mas certamente têm que fazer em outras situações, também infinitas. Pensem em uma pessoa rica workaholic que, diante de tantos compromissos, por escolher trabalhar intensamente, abre mão de atividades físicas, relações sociais etc. Esse tipo (a depender de como se queira ver a situação) de escolha, notadamente no primeiro caso, pode não ser tão trágica assim, mas, é de se convir, pode ser letal, pode representar uma tragédia.

Nota-se, portanto, que escolhas trágicas são democráticas, podem ou não estar relacionadas, direta ou indiretamente, a dinheiro. Não importa. Atingem a todos, sem distinção de sexo, cor, idade, religião. Sob essa ótica, escolhas trágicas atendem ao princípio da igualdade.

A vida é assim. A compreensão disso, em toda sua dimensão, traz experiência, faz-nos maduros.

O que será que Sofia pensaria disso?...  

Jornal de Brasília - 2/6/2014

        

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