Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Na época de Kepler, a mesma de Maestlin, Tycho e Galileu, conheciam-se apenas seis planetas do sistema solar: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno. Só depois “vieram” Urano, Netuno e Plutão. Este último voltou a desparecer. Na verdade, ele não sumiu dos céus, e sim de nossas enciclopédias. Plutão continua no mesmíssimo lugar, alheio ao que falamos sobre ele. O que acontece é que foram descobertos vários planetas com mais características, de tal maneira que ou seriam todos promovidos a planetas, inchando o sistema, ou Plutão seria rebaixado para “planeta-anão”. A decisão foi prática e didática. Do alto de minha astronômica ignorância sobre questões astronômicas, eu diria que foi a mais acertada.
Não só a astronomia era muito diferente na época do autor de “Harmonice Mundi”. A geopolítica também. Kepler nasceu na Alemanha (Weil der Stadt), e morou na Áustria (Graz e Linz) e na República Tcheca (Praga). Os nomes dessas cidades continuam os mesmos, mas os países onde se situam, não: tudo era parte do Sacro Império Romano, que incluía ainda Hungria e Eslováquia. Essas coisas mudam mesmo, fruto de guerras principalmente, mas também de acordos internacionais pacíficos. A Itália é um país bastante moderno em comparação com a história daquelas terras. União Soviética e Iugoslávia não existem mais. A própria República Tcheca era Tchecoslováquia poucos anos atrás.
Religião era outro problema que os brasileiros de hoje não imaginam, pois nós podemos abraçar a que quisermos, ou abandonar, trocar, até misturar. Mas o Sacro Império Romano era formado por diversos principados, ducados, condados e baronatos, cujos respectivos chefes, desde a Paz de Augsburg, de 1555, determinavam a religião, pela fórmula “cuio regius, cuio religius”.
Jornal de Brasília - 30/6/2014