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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

No pré-julgamento (uma etapa do processo penal americano que explicarei em livro, em breve) de O.J. Simpson, o Juiz Lance Ito permitiu que a defesa indagasse se o policial Mark Fuhrman tinha usado a palavra “nigger” nos últimos 10 anos. Em inglês americano, “nigger” designa pessoas negras da maneira a mais depreciativa possível. O vocábulo é altamente ofensivo. Você poderá ter sérios problemas se não falar inglês muito bem, e inadvertidamente traduzir “negro” por “nigger”, já que os termos são falsos cognatos.

Juiz Ito tinha motivos de sobra para não deixar que os advogados explorassem essa linha argumentativa. Em termos fáticos, nada sugeria que o crime tivesse qualquer implicação com motivos raciais. Simpson era acusado de ter matado a ex-mulher, e um amigo desta, em sua antiga casa. O contexto era totalmente passional (pessoal), nada tinha de racial (social). Em termos jurídicos, o Código de Provas da Califórnia e precedentes jurisprudenciais sólidos embasariam o magistrado a não admitir que o caso tomasse um rumo indevido. Seria abusivo da parte da defesa situá-lo em um contexto inexistente. Fabricado, portanto.

Mas isso aconteceu e, da mesma forma como os advogados de Simpson foram encarnando a fama duvidosa de “brilhantes”, o caso foi ficando cada vez com mais conotação racial, embora não tivesse qualquer conteúdo dessa natureza. Talvez o caso Rodney King – esse sim racial --, ocorrido na mesma Los Angeles poucos anos antes, tenha influenciado o estado de espírito dos envolvidos no julgamento de Simpson.

Hoje em dia todo cuidado é pouco. Não se sabe como se referir a uma pessoa negra. A palavra “negra” é utilizada com receio de ser pejorativa. Mas também se receia trocá-la por “preto”, “moreno”, “escuro”, “crioulo”, “afro”.

Jornal de Brasília - 7/7/2014

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