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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

No dia 26.2.1599, Johannes Kepler escreveu em seu diário sua “opinião” sobre Tycho Brahe: “ele tem tesouros em abundância, que não usa como fazem as pessoas muito talentosas. É preciso muito esforço, portanto, o que da minha parte fiz, com toda a modéstia, para arrancar dele esses tesouros, para lhe implorar que revele todas as suas observações, inalteradas”.

Kepler estava interessado na matéria-prima de Tycho, não em suas conclusões, ou seja, não na formatação de seu modelo planetário, mas nas observações que o precederam. Kepler sabia que o modelo estava errado, mas não podia abrir mão dos dados. Afinal, Tycho era nobre, vivia como um rei, tinha equipamentos modernos e um time de assistentes fiéis. Já Kepler era mais matemático, ou seja, físico teórico. Pobre e ensimesmado – ele é o exemplo perfeito do gênio solitário --, não dispunha de condições financeiras de ter acesso à tecnologia do nível de Tycho e, ainda que o tivesse, isso não lhe ajudaria muito, pois sua visão não era das melhores.

É claro que havia uma forte tensão na relação entre os dois. Por um lado, Tycho reconhecia o gênio de Kepler, mas não podia lhe entregar de mão beijada o sumo de suas pesquisas, e tentou domesticá-lo como assistente nos estudos da órbita de Marte. Por outro lado, Kepler teve que agir com cuidado, usando de uma astúcia que não era o seu forte. Ele não era dócil, e estava pressionado por dificuldades que vergastavam sua sobrevivência: se continuasse no castelo de Benatky, teria de renunciar a seu posto em Graz, onde tinha família para cuidar, e onde o cerco se fechara definitivamente contra os protestantes, na Contra-Reforma comandada na Estíria pelo arquiduque Ferdinando.

Resumindo, Kepler não podia ficar nem voltar. Foi mais ou menos o que acabou acontecendo.

Jornal de Brasília - 14/7/2014

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