Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Você pode ter a opinião que quiser acerca de Fidel Castro, até a pior possível. Pode detestá-lo à vontade. Mas um predicado seu não dá para negar: carisma.
Na definição clássica de Max Weber, carisma é “uma qualidade pessoal considerada extracotidiana e em virtude da qual se atribuem a uma pessoa poderes ou qualidades sobrenaturais, sobre-humanos ou, pelo menos, extracotidianos específicos”. É o caso de Fidel. Por algum motivo difícil ou impossível de entender – sua presença física exuberante e o fato de ser exímio contador de histórias, quase sempre mentirosas, explica apenas parte do fenômeno –, ele magnetiza as pessoas à sua volta, e as manipula, pois elas se rendem. “Poder” vem da noção de “poder” fazer as coisas, conseguir o que se deseja.
A tensão entre o líder carismático e os demais (que Weber chama de “adeptos”) não é de forma alguma horizontal. É totalmente vertical, às vezes de adoração. As pessoas olham para cima se quiserem, ou melhor, se tiverem a honra de falar com Fidel. Mas este domina completamente seu interlocutor, em todos os aspectos: tom de voz, tempo disponibilizado, assunto etc. Tanto assim que, na opinião de Juan Reinaldo Sánchez, a verdadeira família de Fidel não eram sua mulher, filhos e parentes – com quem a relação, plasmada em tese pelos ingredientes do amor e dedicação mútuos, deveria ser menos “política” –, e sim sua escolta pessoal.
Sánchez conheceu Fidel profundamente, como pouquíssimos. Para se ter uma ideia, ele era responsável pela guarda da “libreta”, que eram as anotações das atividades diárias do chefe, em seus mínimos e mais banais detalhes. Esse material provavelmente ainda existe e talvez um dia venha a público. Sánchez lançou livro revelando o que sabe sobre Fidel, e essa obra servirá de base para meus próximos artigos.
Jornal de Brasília - 18/8/2014