Ivaldo Lemos Junior 
Promotor de Justiça do MPDFT

No final de 1600, os Kepler chegaram a Praga, e já na primavera seguinte, Jobst Müller, sogro de Johannes, faleceu. Kepler então voltou para Graz, para cuidar de negócios, provavelmente assuntos jurídicos, terras, inventário, esse tipo de coisa. Essas viagens, na época, demoravam muito tempo, e Kepler só retornou meses depois. A mulher e a enteada ficaram.

A partir daí, surgiram algumas surpresas. A primeira é que nada aconteceu a Kepler em Graz. Embora tenha sido expulso pouco tempo antes, não chegou nem a ficar escondido, e não foi preso ou perseguido. Nada. Ninguém sabe ao certo, mas talvez a corte tivesse feito vista grossa, dado o respeito que ele já havia conquistado.

Na volta, estava bem de saúde e suas relações com Tycho também haviam melhorado muito. Tycho o apresentou ao imperador Rudolf, que foi muito receptivo, e o designou para trabalhar em novas tabelas astronômicas, que viriam a se chamar “rudolfinas”, em sua homenagem. Kepler passou a ter o status de colaborador, não apenas de assistente do projeto. Tycho tentou subordiná-lo o máximo que pôde na condição de empregado, até mesmo sendo sovina para com a mulher de Kepler, na sua ausência, o que foi objeto de queixas. Mas parece que a mulher era uma chata e reclamava de tudo. Feliz mesmo Kepler foi com a segunda mulher.

Por fim, mais uma reviravolta, a mais espetacular de todas. Poucos dias depois da apresentação de Kepler ao imperador, quem ficou doente foi Tycho. Este havia ido a um banquete na residência de um nobre, um tal Peter Vok Ursinus Rozmberk, e, seguindo a etiqueta, não se levantou da mesa antes que o anfitrião o fizesse. Só que Tycho havia bebido demais (como de costume) e, a partir daí, simplesmente não conseguiu mais urinar. Onze dias depois, após insônias, febres e delírios, morreu.

 Jornal de Brasília - 8/9/2014