Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Na Ilhéus de Gabriela, o coronel Ramiro Bastos é quem manda e desmanda. É o macho alfa. O macho beta, que lhe auxilia na manutenção de sua posição, é o coronel Melque e, secundariamente, o coronel Amâncio. O macho gama é o Dr. Mundinho Falcão, bem mais jovem, rico, ambicioso; é o inimigo a ser derrotado.
A política local, assim delineada, não é falsa. Ramiro é de fato poderoso. De fato Melque, Amâncio e outros coronéis dão-lhe todo o apoio, intelectual e material, principalmente material, de “enforcement” de suas decisões, quase sempre brutais. Não é menos verdade que o Dr. Mundinho não é aliado do “establishment” local, e tem pretensões comerciais e políticas que passam necessariamente pela derrubada da cultura do cabresto, mas por dentro, minando suas estruturas. Mundinho não é apenas o novo Ramiro Bastos, não quer somente tomar-lhe o lugar.
Em artigo publicado há algum tempo, questionei se o posto alfa não seria ocupado não por um macho, e sim por uma fêmea, a D. Dorotéia. A tese é interessante. Em um embate tenso entre ambos, Ramiro chamou Dorotéia de “velha fofoqueira” e essa não abaixou a cabeça, não reconheceu que estava diante de uma figura superior. Enfrentou-o com o olhar penetrante e a firmeza de quem sabia muito bem quem era quem. O coronel é que não sabia; ele tinha mais audácia do que astúcia.
Pois é justamente no quesito de conservação do seu posto (ou pseudo-posto) que Ramiro comete os erros mais grosseiros. Ele permite o desfrute de fatias do bolo do poder entre os amigos, sem preocupação com uma aceitação popular que lhe desse uma sustentação mais ampla e mais estável. Por aceitação popular, compreenda-se mulheres, crianças/jovens e idosos, exatamente o que nós, hoje, chamamos de Lei Maria da Penha, Estatuto da Criança e Adolescente, e do Idoso.
Jornal de Brasília - 20/10/2014