Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
No dia 18 de setembro de 1931, Angelika “Geli” Raubal entrou no quarto do tio Adolf, pegou emprestada sua pistola Walter calibre 6.35 e atirou no próprio peito. Decerto tentou acertar o coração. Errou o alvo. Mas perfurou o pulmão, caiu de bruços e morreu asfixiada. Tinha 23 anos.
A versão oficial que prevaleceu, fruto de investigação, foi de suicídio, mas a motivação exata nunca ficou esclarecida. Geli não deixou bilhete de despedida, não conversou com ninguém a esse respeito, não deu sinais de que isso estava em vias de acontecer. De acordo com o tio, ela estava insatisfeita consigo mesma em razão de insucesso profissional (Geli queria ser cantora lírica, mas não tinha talento e era preguiçosa, não se dedicava a treinamentos e exercícios).
Uma segunda versão, da empregada da casa, Anni Winter, é de natureza passional. Ou seja, ciúmes. Ela disse que viu Geli procurar, achar e ler uma carta dirigida a seu tio por Eva Braun, e ficou enfurecida. Suas últimas palavras teriam sido: “juro que nada mais me liga a meu tio”. A tal carta nunca foi vista por absolutamente ninguém e a hipótese é considerada improvável, já que Anni era muito leal a Hitler. Depois da tragédia, só os dois, Anni e Hitler, podiam entrar no quarto da falecida. O cômodo ficou intacto após a morte, ninguém poderia tocar em nada, era uma espécie de santuário.
Vamos lembrar que, em setembro de 1931, Hitler já era alguém importante no contexto político da Alemanha, mas ainda não era o Fürher. Ainda não existia a Gestapo e a SS estava em desenvolvimento. O jornal Münchener Post publicou matéria sensacionalista sobre o assunto e não faltou quem achasse que houve homicídio e não suicídio.
Jornal de Brasília - 17/11/2014