Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Ninguém está infenso a sofrer ataque de mau humor e descontar em gente da família, subordinado no serviço ou desconhecido no comércio. Mas quando isso acontece com um magistrado, a consequência pode ser a de arrastar a categoria profissional a que pertence e apresentá-la como a de um monte de pessoas boçais e pernósticas. Cada integrante de uma corporação é também, involuntariamente, seu representante.
Talvez o juiz que tenha sido grosseiro seja alguém de bom trato, que acaba ficando injustamente marcado por um erro isolado. Ou então ele praticou algumas “juizites” no começo da carreira porque era jovem de idade e estava se adaptando à nova função; cada um tem sua história de vida e seu ritmo próprio de aprendizado. Usar de autoridade – o que é obrigatório, pois não se pode renunciar à autoridade pública ou privada que se tem –, sem ser autoritário, é uma arte. O juiz jovem tem o desafio redobrado de vivenciar uma maturidade que ainda está forjando e conquistar respeito que as aparências engendram a título de “promessa” saída da embocadura das vigílias de biblioteca, não da realidade da vida. O juiz velho tem o desafio de envelhecer amadurecendo. Pior que o jovem patusco é o homem de barba branca que abre a boca só para falar platitudes e grosserias.
Não pense o leitor que estou justificando ou que ache correto. Não estou. Mas tente entender que o juiz passa a tarde em audiência com vários policiais sob seu comando, às vezes com simples gesticulação ou nuto. Meia hora depois, de volta para casa, entra em uma blitz e a situação se inverte: o juiz é que fica sob as ordens do policial, de parar o carro, mostrar documentos, dar explicações. Essa mudança súbita não é de fácil assimilação, pois o juiz, ali, é uma pessoa como outra qualquer, mas não deixou de ser juiz.
Jornal de Brasília - 22/12/2014