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Ivaldo Lemos Junior

Promotor de Justiça do MPDFT

As pessoas dificilmente votam com a razão, e sim com o coração. Para provar essa afirmativa, vamos esquecer um pouco uma eleição para presidente da República, em que os candidatos são pessoas que você não conhece, senão por informações que vai colecionando em segunda mão, ou seja, por leituras e conversas com terceiros. Muitos assuntos tratados na campanha são complicados, como questões tributárias e comércio exterior. Ninguém vota ou deixa de votar em candidato dependendo do que ele pensa, por ex., sobre o fator previdenciário.

Vamos pensar em uma eleição para síndico. Aqui, sim, os candidatos (digamos dois) você conhece muito bem. Os eleitores você também conhece porque são seus vizinhos e eventualmente amigos. Os problemas que o síndico terá que enfrentar são os ordinários, como limpeza, manutenção dos encanamentos, jardinagem, ou extraordinários, como compra de um equipamento, troca de piso do pilotis ou reforma.

Pois bem. Um dos candidatos é síndico há alguns anos e o outro nunca o foi. O segundo você não sabe se será um bom síndico. Ele pode não ser, pode não gostar, pode ficar irritado com reclamações constantes, ou ser indeciso ou desorganizado. Mesmo assim, algumas pessoas votarão nele, e isso acontecerá por dois motivos, isolados ou conjugados: gostam dele e/ou não gostam do outro.

Quanto ao primeiro, há elementos para se avaliar seu desempenho como síndico. Ele pode ter feito um trabalho, em sua opinião de morador-eleitor, ruim, médio ou bom. Talvez você o considere, no fundo, um bom síndico – síndico bom é síndico chato, observador, rigoroso, que sabe resolver problemas e não tem receio de pegar um pouco no pé das pessoas – mas não vote nele porque um dia ele foi grosseiro com seus filhos no elevador. Não separar as coisas é uma decisão sentimental.

Jornal de Brasília - 29/12/2014

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