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Ivaldo Lemos Junior

Promotor de Justiça do MPDFT

Vários atributos são exigidos de alguém que pretenda ser o líder de um povo. Um dos mais constantes, verificados desde minúsculas comunidades primitivas até gigantescos e complexos países, são os dons oratórios. Pessoa sem facilidades retóricas pode ter predicados admiráveis e exercer influência real. Pode até ocupar o posto alfa. Mas é difícil que desempenhe funções alfa.

É sempre bom lembrar a distância que separa cargo e função. Não é raro que uma pessoa preencha o cargo mais proeminente do organograma político – monarca, presidente, primeiro-ministro etc. –, mas não seja verdadeiramente a pessoa mais importante. Ela pode ser um “laranja” ali colocado por força das circunstâncias, pelo passado suscetível a chantagem e manipulação, ou então alguém decente mas fraco de espírito, que não consegue contrariar interesses e só toma decisões consultando suas eminências pardas, sejam assessores próximos, conselheiros esotéricos ou o chefe propriamente dito.

Sobre dons oratórios, Pierre Clastres explica que “falar é antes de tudo deter o poder de falar. Palavra e poder mantém relacionamentos tais que o desejo de um se realiza na conquista do outro. Tomada de poder é também uma aquisição da palavra”. É perceptível que isso se transforma à medida que a sociedade se expande e se sofistica. Em grupos fechados, a palavra funciona como uma espécie de mecanismo de controle, como uma homilia que celebra mitos, como um rito que não tolera novidades.

Nas sociedades abertas, até quem detém o poder – ou a substância do poder estatal, que é aquele tipo específico que se exerce CONTRA quem não o detém –, a palavra de ordem é mudança. O macho gama quer o poder para fazer mudanças. Os machos alfa e beta querem continuar onde estão para fazer as mudanças que ainda não conseguiram fazer.

 
Jornal de Brasília - 5/1/2015

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