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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT 

Juanita Castro escreveu um livro (“Fidel e Raul, meus irmãos – a história secreta”) sobre a experiência familiar e política que sua condição pessoal lhe proporcionou. Muito mais do que testemunha privilegiada, ela participou ativamente de uma série de atos a favor e, depois, contra o regime encabeçado por dois de seus irmãos.

Suas memórias tentam resgatar a imagem de seus pais, duramente atacada pelos detratores da revolução cubana, e também contar histórias de bastidores ou confirmar, em primeira mão, fatos de conhecimento público e notório. Destes últimos, Juanita diz o seguinte (capítulo 41): “é muito difícil que Fidel encontre com alguém que refute suas ideias e lhe diga que não funcionam, porque Fidel era visto como alguém sobrenatural, a quem não se podia contrariar”.

Àquilo que chamou de “cultura do medo”, Juanita dá um exemplo: uma vez a mãe ficou doente e a internaram em um hospital. Fidel chegou e a equipe médica passou a paparicá-lo. Ele parecia prestar a maior atenção nas explicações mas, quando abriu a boca, o que fez foi perguntar se era possível fabricar Alka-Seltzer em Cuba. Os presentes fizeram “um silêncio sepulcral” e, após o susto, começaram a dizer que a ideia era simplesmente genial. Somente um médico ousou afirmar que a fórmula era patenteada nos EUA e o processo de fabricação era muito complicado – o que não agradou Fidel, que preferiria que continuassem lhe bajulando.

Em outro episódio (cap. 39), a mãe, levada por uma estudante chamada Raquel Rodríguez, foi ver Fidel fazer um discurso para a televisão. Diz Juanita que o “o estúdio estava cheio de gente e cada vez que Fidel dizia algo era preciso levantar para aplaudir”, mas Raquel permanecia sentada. Quando percebeu que podia ser presa por isso, levantava-se, mas recusou-se a aplaudir. 

Jornal de Brasília - 19/1/2015

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