Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
No dia 26 de julho de 1960, Fidel Castro iria fazer um discurso na Praça da Revolução (antiga Praça da Cidadania), e precisava de plateia. Foram enviados alunos da escola em que estudava o escritor Reinaldo Arenas, então com 16 anos, que também foi no grupo. A viagem não era curta, pois a “beca” ficava na cidade de Holguin, a três dias de trem de Havana.
O que os estudantes fizeram foi o papel de claque: desfilar e aplaudir. Eles se hospedaram no hotel Habana Libre (antigo Habana Hilton). Depois do discurso, Fidel se dirigiu para lá e foi ovacionado com fervor. “Todos estávamos entusiasmadíssimos com sua presença; era uma honra que o Comandante em Chefe fosse visitar a nós, simples contadores agrícolas”, lembra Arenas em seu livro de memórias “Antes que anochezca”. Depois ele descobriu que Fidel fazia esse tipo de visita quase todos os dias, e que pessoas estavam sendo enviadas para Santo Domingo, na República Dominicana, para combater a tirania de Rafael Trujillo. Mas este aniquilou as tropas cubanas na praia mesmo em que tentaram desembarcar.
Arenas confirma informação de Juanita, irmã de Fidel, de que a revolução não era declaradamente comunista, o que não ocorreu de início, mas um bom par de anos depois. De um modo geral, esse tipo de coisa acontece em três etapas: na primeira, nega-se veementemente. Em seguida, são feitas declarações dúbias pelo líder, ou declarações calculadamente desencontradas pela cúpula. Por fim, é dito às claras, sem subterfúgios, e até de maneira indignada. Se se conseguir chegar à terceira fase com sucesso, é tarde demais, não há mais tempo para se desmascarar a farsa.
A diferença entre Juanita e Arenas é que este não foi pego de surpresa, pois sua escola, em suas palavras, “não era mais que um centro comunista” de treinamento.
Jornal de Brasília - 16/03/2015