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Laura Beatriz Rito
Promotora de Justiça do MPDFT

Vendo o noticiário, mais uma vez, eu me deparo com a pergunta que não quer calar: até quando? Tal pergunta refere-se à morte do ciclista Fabrício Torres, 35 anos, atropelado e morto por Rafael de Melo Balaniuk, embriagado, na L4 Norte, perto do Iate Clube de Brasília. Como Promotora de Delitos de Trânsito do MPDFT, onde fui titular por 10 anos, tal pergunta nunca teve resposta. Não vou aqui incursionar por questões jurídicas, citando legislações, artigos e jurisprudência dos tribunais, muito menos descrever as inúmeras experiências dolorosas que presenciei nas audiências.

Cada um de nós, cidadãos brasileiros, faz essa pergunta. E a resposta não vem.

A população brasileira tem conhecimento dos números alarmantes de acidentes com morte e que causam sequelas irreversíveis nas vítimas. Todos sabem e conhecem, pormenorizadamente, o que diz a Lei Seca. Se, por acaso, alegam desconhecimento, é tão difícil entender o que já ouvimos desde sempre? “Se beber não dirija”.

Mas o ser humano é infalível, é vaidoso, não pode demonstrar fraqueza, é “homem macho”, tem que beber e provar que “dá conta”, que não é “fraco para bebida”, que não perde os reflexos, que “dirige melhor quando está bêbado”, “que comigo isso não acontece” e por aí vão as inúmeras e imbecis desculpas explicações. ATÉ QUANDO?

Até que um dia acontece...

Até que um dia, o ato irresponsável causa uma perda irreparável na família do outro e na do próprio autor. O grande problema hoje em dia, que vislumbro como um dos maiores vilões da sociedade, é a falta total de valores, de colocar-se no lugar do outro e de sentir a dor do outro. Como nos tornamos tão insensíveis? Até quando?

Não somos capazes de abrir mão do prazer momentâneo do álcool até nos certificarmos de que voltaremos sãos para nossas casas e que não causaremos dor a ninguém? Os números de condutores embriagados crescem cada vez mais. Até quando?

A legislação torna-se mais dura e os resultados são muito tímidos. O que precisa mudar? Sem dúvida, a legislação, a punição, a educação no trânsito, o estado e a conservação das estradas, a fiscalização, o preparo dos condutores, tudo contribui para que alcancemos um melhor resultado. É preciso investimento financeiro e humano. Mas a grande mudança que precisa acontecer é a do ser humano. Sem essa, nada acontece, nada muda, nada flui. Até quando seremos os mesmos? Até quando?

Correio Braziliense - 7/4/2015

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