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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT 

Em tempos de paz, jovens cubanos eram recrutados para realizar trabalhos forçados em canaviais. Em vez de alistamento no serviço militar, tinham de abastecer a economia agrícola do país cortando cana-de-açúcar. Um deles foi Reinaldo Arenas, que descreveu a situação como “desesperante”: “entrar em um daqueles lugares era entrar no último círculo do Inferno”. 

Como as folhas eram muito cortantes e provocavam feridas insuportáveis, as pessoas se cobriam da cabeça aos pés, debaixo de um sol escaldante (a jornada começava às quatro da manhã). Para o escritor, “não é possível, para quem não tenha vivido, compreender o que significa estar aomeio-diaem um canavial cubano e viver em um barracão como os escravos”. Só quem conheceu tal experiência pode imaginar porque tantos índios e negros preferiram se matar a se deixar escravizar. No Brasil, muitos negros conseguiram escapar do jugo de seus senhores e se homiziar em quilombos; as consequências de uma fuga fracassada eram terríveis. Em Cuba, abandonar as plantações constituía crime que poderia render até 30 anos de cadeia.

No ano de1970, ameta de produção era de 10 milhões de toneladas de açúcar. Todos sabiam que isso seria impossível, mas quem o dissesse publicamente era condenado por traição. Diante do fiasco inevitável, Fidel Castro, nas palavras de Arenas, “se negou a reconhecer seu erro e tratou de desviar a atenção para outros acontecimentos”. Inventou-se que a CIA havia raptados dois pescadores cubanos, e houve protestos (incentivados à base de comida e cerveja) contra os EUA. Bonecos do presidente Nixon eram queimados na Plaza de La Revolución ao som de tambores.

Uma semana depois, Fidel discursou, dizendo que intimidara o inimigo e conseguira a devolução dos pescadores. Estes apareceram e foram recebidos como heróis.

Jornal de Brasília - 13/4/2015

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