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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT 

Até a segunda década do século passado, a antropologia europeia estava fazendo incursões científicas sobre suas origens hominídeas na própria Europa. Achados importantes haviam sido extraídos do vale de Neander, forjando o Homem de Neandertal, e do sul da França, berço do Cro-Magnon. Ambas as hipóteses encontraram resistências de anatomistas e, mesmo entre entusiastas (pois é sedutora a ideia de “o primeiro alemão”, “o primeiro francês” e até o “primeiro inglês”, com a palhaçada de Piltdown), as raízes não pareciam profundas o bastante: minguadas dezenas de milênios, ancestrais de cérebros grandes, fabricantes de artefatos líticos e praticantes de arte e religião. A pré-história era bem mais antiga, urgia sair do continente para conhecê-la direito.

Novas descobertas começaram a vir de Java, China e, finalmente, África. Em 1924, Raymond Dart, professor de medicina em Johanesburgo, ouviu falar de um possível babuíno extinto em Taung, e pediu ao dono de uma pedreira que lhe enviasse alguma rocha fossífera que viesse a encontrar. Em uma das caixas que recebeu, havia um molde endocraniano que passou vários dias limpando. Chegou à conclusão de que o indivíduo em suas mãos pertencia a um gênero novo, pois não era macaco nem andava em pé; acabou denominando-o “Australopithecus africanus”. 

O que mais me chama a atenção nessa história é que, no dia em que recebeu o material, Dr. Dart tinha um casamento. Ele era o padrinho e a cerimônia seria na sua própria residência. Mas estava tão entretido que acabou se esquecendo. Foi chamado, fez a toalete às pressas, participou do ato – e em seguida voltou ao fóssil. Atenção: compromissos sociais ficam prejudicados quando um homem está muito concentrado no trabalho, mesmo que este não venha a se transformar em verbete da enciclopédia Britannica.

Jornal de Brasília - 27/4/2015

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