Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Diógenes Coimbra
Filósofo
Medo é o instinto com o qual a natureza nos agraciou a nós e a outras espécies para nos advertir dos riscos inerentes ao viver, instinto sem o qual nossa existência não ultrapassaria, com sorte, alguns poucos dias. O medo comporta graus, que são paulatinamente dosados no transcorrer da vida, por uma série intricada de capacidades inatas, entre as quais, em nós humanos, a consciência desempenha papel fundamental. Assim, do medo extremo, que acomete o covarde, à ausência completa dele, que caracteriza o temerário, situa-se a coragem. Daí dizer Aristóteles que a virtude situa-se na mediania entre os extremos.
Ninguém nasce covarde, nem temerário, nem muito menos corajoso. Somente uma educação correta, que forje o hábito por meio da perseverança, nos proporciona distinguir, com prudência, os meios para sermos corajosos, para não termos medo do medo. Largados ao sabor das circunstâncias, desde as primeiras descobertas da infância e da juventude até o temor da morte que nos invade na velhice, seremos tomados por medos, que ora nos acovardam, ora nos tornam imprudentes.
Contra o medo, pois, se luta, para dominá-lo; ou a ele se sucumbe, passivamente; ou, o que é mais frequente, dele se foge, fingindo ignorá-lo. O que seria a praga dos entorpecentes, senão válvula de escape para os temores do cotidiano? Mas há modos mais sutis de fugir ao medo, a pretexto de o enfrentar. A imprudência e a negligência no agir costumam ser efeitos de uma covardia dissimulada diante do medo, sobretudo o medo da morte. Descuidar-se de si mesmo constitui, o mais das vezes, ato temerário-imprudente ou covarde-negligente por meio do qual alguém põe termo à própria vida. Enfim, é o medo latente e atávico de viver que se oculta por trás dos atos, aparentemente inexplicáveis, dos suicidas.
Jornal de Brasília - 18/5/2015