Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Diógenes Coimbra
Filósofo
Mortos seus pais, Aleixo e Silvia, o órfão Douglas quis levar a vida à solta. Se seus pais tinham, por infortúnio do destino ou por fraqueza de caráter, desistido da vida, Douglas, ao contrário, queria segundo de sua existência efêmera. Não bebia nem fumava. Não queria abrir as portas da Sorte ao azar que tolhera seus pais. Só não era um monge nem um ermitão porque não cria senão no aqui dos desejos e no agora das sensações. Mais do que tudo, aventurava-se nos esportes radicais. De píncaros alvíssimos a desertos inóspitos, de selvas impenetráveis a mares revoltos, Douglas nada temia: escalava, saltava, velejava. Viver era transcorrer o tempo transpondo lugares.
Mais do que tudo, amava as profundezas oceânicas. A profusão da vida marinha parecia encher-lhe o vazio que a morte dos pais lhe deixara. Mergulhador experiente, aventurou-se um dia a explorar uma caverna marinha habitada por criaturas luciferinas. Buscava qualquer peixe feérico, que, diziam, transforma-se num arco-íris tão logo as águas cavernosas se enegreciam. Não encontrou, porém, ninguém que o acompanhasse na aventura. A despeito do perigo, e burlando todas as regras jurídicas e de bom senso, foi só, e, só, avistou o tal pirilampo do mar. E só esta visão lhe restou nos últimos minutos de vida que teve no interior da caverna, seu mausoléu marítimo.
O leitor pensará: — não diga que foi suicídio! E não foi, respondo indagando. Mesmo perito em mergulho, descuidou-se Nico do tempo que lhe restava para retornar à superfície. Deu de ombros à morte, buscando gozar a vida. Não quis morrer, como de resto, provavelmente, seu pai e sua mãe também não o queriam, mas a imperícia, temperada com alguma soberba, o impediu de seguir vivendo. Se levasse alguém consigo, e este morresse, seria homicida; por ter morrido ele próprio, Nico suicidou-se.
Jornal de Brasília - 8/6/2015