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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Carlos Lacerda acusou Jânio Quadros de ter pouca cultura, consistente em “algum Shakespeare e um pouco de Zola”. Jânio, que era dicionarista, tinha bagagem de leitura muito acima do brasileiro médio e, por que não dizer, dos ocupantes dos cargos políticos mais altaneiros da atualidade.

Ora, uma repórter pergunta a uma autoridade sobre o último livro que leu, mas o faz sem pretensão, a título de amenidade, do mesmo modo como indagaria sobre seus hobbies ou o prato predileto; qualquer resposta serve. Uma resposta ruim, ou mesmo resposta nenhuma, não encabula, não estraga.

Fica aqui uma sugestão de requisito para candidatura à presidência: sabatina pública sobre cultura geral, em assuntos literários, históricos, geográficos etc. Nada de currículo Lattes à guisa de prova juris et de jure de conhecimentos teóricos. Proponho, durante bem uma semana, inquirição direta, à queima-roupa, fora da zona de conforto de correligionários e marqueteiros, para que a pessoa mostre o que sabe e, porca miséria, quem é. Tudo seria registrado e compilado para ampla divulgação, inclusive tergiversações, blefes e erros de concordância. Gostaria de participar de tal audiência, mas por ora me contento em imaginar o que Lacerda não teria feito nos últimos debates eleitorais.

Tenho sincero respeito por aqueles que tiveram de enfrentar cedo o mercado de trabalho. Ninguém tem obrigação moral de ser estudioso ou erudito. Mas está a cada dia mais evidente que o sujeito que descuidou do próprio preparo intelectual não tem condição de dirigir país nenhum, pois isso é uma missão extremamente complexa. Conteúdo não é suficiente mas é necessário, não menos que jogo de cintura, boa presença e dados econômicos (duvidosos ou mesmo mentirosos) na ponta da língua, que são atributos valorizados em demasia.

Jornal de Brasília - 22/6/2015

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