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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

“O perigo constante para gurus é que eles devem continuar produzindo novas maravilhas para os seus seguidores. Eles não podem deixar uma ação tornar-se obsoleta ou parecer errado sob alguma coisa – ou, pior que isso, falhar publicamente”. Quem escreveu isso foi Jeff Guinn em sua monumental biografia sobre Charles Manson. Max Weber concordaria, pois afirmou que “se por muito tempo não há provas do carisma, se o agraciado carismático parece abandonado por seu deus ou sua força mágica ou heroica, se lhe falha o sucesso de modo permanente, então há a possibilidade de desvanecer sua autoridade”.

Discursos são importantes, mas evidências materiais são imprescindíveis para a manutenção do reconhecimento dos adeptos. As provas devem feitas à vista de outros, que, mesmerizados, testemunharão. E mais: tentarão obter vantagens pessoais. O desprezo do súdito pelo líder que fracassa no uso de seus poderes sobrenaturais só não é menor do que a decepção causada pelos milagres errados.

Usei acima a palavra “desprezo” porque foi a empregada por Weber, aliás, entre aspas. Podemos retirar as aspas pensando em uma modalidade particularmente notável de desprezo, que é o escárnio. Bocejar no meio de um sermão é mau sinal. Parecer distraído tampouco é bom, assim como fazer apartes provocativos ou perguntas intempestivas. Mas e uma gargalhada? Não falo de um risinho cínico, um “scoff” que mais revela desdém ignorante do que descrença impenetrável. Falo de gargalhada com autoridade de quem sabe rir, caudalosa, contagiante, capaz de desmascarar falsos gurus como Manson, como Hitler, como “cientistas” prometeicos, “pesquisadores” de egos inflamados, “intelectuais” que não fazem outra coisa na vida a não ser pavonear e que, ao serem pegos em uma mentira, inventam outra maior ainda.

Jornal de Brasília - 6/7/2015

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