Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Quando foi enfim capturado, o escritor cubano Reinaldo Arenas foi conduzido à prisão de Castillo Del Morro, uma fortaleza colonial construída pelos espanhóis. Era a pior de La Habana, paradeiro dos mais perigosos delinquentes, quase todos condenados por delito comuns. Ao que parece, o lugar não poderia ser mais indigno: extremamente abafado, barulhento, mefítico.
Curiosamente, a sorte de Arenas poderia ter sido pior. É que ele não foi preso na qualidade de dissidente político, mas como estuprador de várias mulheres, matador de uma anciã e espião (agente da CIA). Como a polícia demorou para localizá-lo, espalhou cartazes de “procura-se” em lugares públicos com acusações variadas – todas monstruosamente falsas – e sua foto. Assim estigmatizado é que chegou ao Morro e muitos internos o reconheceram. Isso lhe foi positivo, pois o “cobriu de uma auréola e certo respeito, mesmo entre os próprios assassinos”, na sua própria avaliação.
Em condições normais, o escritor teria sido designado para a pior de todas as alas, situada no andar subterrâneo, que inundava quando a maré subia e que não tinha banheiro: a dos homossexuais. A estes “não se tratava como seres humanos, mas como bestas”. Eram os últimos a sair para comer, eram humilhados sem nenhuma piedade, eram castigados por tudo e por nada. Arenas descreveu a “galera de las locas” como “o último círculo do Inferno”. Essa mesma expressão ele havia usado para descrever o trabalho forçado nos canaviais. Que ilusão! Como as coisas ainda iriam piorar para ele!
Interessante foi o caso de outros presos que conheceu, como o de um pai e todos seus filhos, que mataram uma vaca – de propriedade da família – para comer. A lei criminal cubana punia tal conduta, e por isso todos eles foram condenados a cinco anos de cadeia.
Jornal de Brasília - 10/8/2015