Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Quando o ex-agente Joe Pistone aceitou participar de infiltração em uma quadrilha de Nova Iorque, seus assentamentos funcionais foram apagados dos arquivos do FBI. Somente três pessoas do departamento sabiam da missão, e seu contato regular era com apenas uma. Para todos os efeitos, ele não era policial coisa nenhuma. Continuava percebendo o salário normalmente, mas seria inútil se identificar como agente, por exemplo, em uma banda da polícia local; ele teria que se virar de alguma outra maneira. De fato foi monitorado por um tempo, sem que os investigadores desconfiassem de sua verdadeira condição, mas não chegou a ser preso. Seu nome postiço ("alias ou "a.k.a") era Donnie Brasco.
Ao lado desse abandono proposital, mas abandono mesmo assim, Pistone enfrentou uma dificuldade gigantesca: como o trabalho era inédito, ele não tinha a quem recorrer para pedir orientações ou tirar dúvidas. Não existiam livros sobre o tema e, mesmo se existissem, não teriam caráter de manual, pois esse tipo de experiência tem peculiaridades únicas e contornos totalmente exclusivos. Pistone contou com a ajuda da própria imaginação e intuição. Foi muito bem sucedido. Afinal, a ideia era ficar seis meses e acabou ficando seis anos. Saiu sem um arranhão e as informações que acumulou foram decisivas para a futura condenação de diversas pessoas.
Pistone escreveu mais de um livrfo sobre o assunto (um deles tem um encarte com CD com gravações reais). Uma coisa que aprendeu vale como lição de moral para qualquer um: a necessidade de achar o ponto de equilíbrio. Por um lado, submissão em demasia acarreta ser tratado com desrespeito ou condescendência. Mas não se deve ser atrevido e confrontar os superiores. No mundo organizado existe uma hierarquia feita para ser rigorosamente observada.
Jornal de Brasília - 7/9/2015