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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Em seu livro de memórias, Juan Pablo Escobar diz que seu pai, famigerado narcotraficante colombiano, valia-se de Cuba para transportar cocaína aos EUA, o que contava com “a cumplicidade de altos oficiais” que “foram descobertos, acusados de trair a pátria e fuzilados em 1989, após um longo julgamento”. A informação não está totalmente correta. O julgamento não foi longo, durou apenas alguns dias. 

Os réus foram ninguém menos do que o militar mais respeitado da ilha, general Arnaldo Ochoa; o ministro do Interior, José Abrantes, homem de histórica confiança do regime; coronel Tony de La Guardia, encarregado de inúmeras missões secretas, dentre outros nomes menores. Não que as acusações fossem falsas. Eles estavam, sim, envolvidos com tráfico. Mas o buraco era mais embaixo. 

Desde o início da década de 1980, as autoridades americanas, alimentadas por espiões panamenhos e desertores cubanos, sabiam das relações entre Fidel Castro e o Cartel de Medellín, chefiado por Pablo Escobar. O “Departamento MC”, criado em 1986, era incumbido de obtenção de dólares, o que fazia com atividades legais e ilegais; dentre estas, contrabando de charutos, lagostas, obras de arte e diamantes. E tráfico de tóxicos. 

Nas palavras de Juan Reinaldo Sánchez, os processos foram uma manobra do “mestre em cinismo” Fidel, que percebeu “a ameaça de um escândalo e provavelmente alertado a esse respeito pelos serviços de informação infiltrados nos Estados Unidos”. Sánchez viu Fidel inspecionar pessoalmente um carregamento de cocaína, e também o viu manipular “absolutamente tudo” nos processos: o presidente do tribunal, o promotor, até os jurados recebiam instruções suas. Abrantes foi condenado a 20 anos mas estranhamente morreu na cadeia, pouco depois. Ochoa e Tony foram fuzilados em 13.7.1989.

Jornal de Brasília - 9/11/2015

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