Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Ramiro Bastos tinha um macho- gama antes do surgimento de Mundinho Falcão: o Capitão. Tratava- se de um adversário anódino. Tinha paixão pela política e nutria desejo de mando, “mas não era fazendeiro, não tinha dinheiro para gast ar ”, nas palavras desanimadoras de Jorge Amado, no romance “Gabrie - la ”. Não dispunha de poder de articulação para a derrubada do macho- alfa, cuja visão administrativa estava enferrujada, malgrado ainda contasse com o apoio maciço do coronelato local.
Capitão viu em Mundinho a pessoa ideal para fazer o que ele não conseguiria fazer por conta própria. Postou-se, assim, como o macho- beta do macho-gama. Se o plano funcionasse, vindicaria benefícios futuros de que se considerasse merecedor, que poderiam ser mais ou menos ousados: uma fatia relevante das prerrogativas do chefe ou o contentamento com funções menores ou benesses.
Acontece que, uma vez erigido ao posto máximo, Mundinho talvez não precisasse mais do Capitão; seu papel morreria na campanha. Se Capitão usava Mundinho, a recíproca, afinal, não era menos verdadeira. O destronamento de Ramiro não era questão de rotatividade normal do poder, como se um velho sem herdeiros políticos (um filho era médico pediatra e deputado estadual, mas de temperamento manso e cordial, e o caçula era um tabelião que não pensava em outra coisa a não ser rabo- de-saia) fosse trocado por carne nova. Talvez Mundinho necessitasse de um coronel como beta provisório, para que a transição fosse mais digerível – e, de fato, valeu-se deMelk Tavares, que passou do beta de Ramiro para o beta de Mundinho.
Nesse novo quadro, a escolha potestativa de Capitão seria aceitar a atribuição de eminência parda de Mundinho ou se rebelar novamente. Ou então poderia funcionar como falso gama, ou seja, como oposição de araque.
Jornal de Brasília - 14/12/2015