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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

João Pessoa, como todos sabem, é a capital do estado da Paraíba. Mas foi uma pessoa de carne e osso. Foi um político que, eleito governador, tentou fazer mudanças na administração dos negócios dos coronéis do interior, produtores, sobretudo, de algodão. O escoamento da colheita era feito por Recife. Ele quis canalizar o despacho do produto pela via dos portos da capital e de Cabedelo, garantindo assim o recolhimento de impostos. Houve resistência e até violência, o que culminou com a chamada “Revolta de Princesa”, nome dado em razão da aprazível e agradabilíssima cidade de Princesa Isabel, localizada nas proximidades da fronteira com Pernambuco.

Acontece que o assassinato de João Pessoa, em 26 de julho de 1930, não ocorreu apenas por motivos políticos, mas também por razões pessoais, com requintes de sordidez. Na época, o “coronel Ramiro” de Princesa se chamava José Pereira. Uma das forças locais que ficou contra o governo e ao lado do coronel foi a família do advogado João Dantas. A polícia invadiu o escritório do advogado, na capital, e levou cartas de amor trocadas entre ele uma professora primária, Anaíde Beiriz.

Embora Dantas e Anaíde fossem desimpedidos, as cartas foram levadas ao conhecimento público (o jornal governista “A União” disse que não as publicaria por uma questão de “decência”, mas avisou que o material estava à disposição na delegacia). A moça caiu em desgraça e foi abandonada pela família. Mudou-se para Recife, onde cometeu suicídio. João Dantas lavou sua honra com o sangue de João Pessoa, também em Recife; o corpo foi levado para a capital da República, Rio de Janeiro, e o enterro foi muito explorado politicamente. João Dantas morreu na cadeia, assassinado.

Em tempo: este artigo foi escrito em homenagem às irmãs França e à Dona Carmelita.

Jornal de Brasília - 4/1/2016

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