Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Afinal, o que o estudante vai fazer na escola? A resposta mais óbvia é: estudar. Mas a escola não é necessariamente decisiva para isso, e talvez até seja um estorvo, como no caso de talentos precoces ou gênios (desde que não desperdiçados) que, não raro, tiram notas baixas. Ou então a abandonam, se não forem expulsos antes, dando a impressão de que eram uns desajustados, tanto quanto os verdadeiros anátemas da classe.
É verdade que o jovem não tem maturidade nem disciplina para montar um plano pedagógico por conta própria e precisa da orientação de pessoas mais sabidas, os professores e coordenadores. Teste não é apenas demonstração de intimidação do poder do mundo adulto, mas um acicate para que o aluno se desenvolva no encarar do desafio, cresça diante do perigo da frustração. Ademais, os pais não têm tempo ou know-how para educar os filhos em casa, de tal modo que o colégio (no limite, o internato) acabou se consolidando como uma instituição relevante.
Por outro lado, não é menos verdade que estudar não é aprender, e muito menos aprender o que deva ser apreendido, gastando-se tempo com lições bobas, que não matam a sede do conhecimento, ou que a fazem engasgar nos momentos de maior densidade. A lição número um não diz respeito ao “que” mas ao “porque”. Por que preciso resolver equações de segundo grau? Por que preciso conhecer os golfos da Grécia? Por que preciso decorar detalhes sobre guerras ocorridas há séculos? Se a escola perder o fio dessa meada, ou seja, se negligenciar as condições em que o caminho do saber é um sacrifício válido, o conteúdo fica boiando no quadro-negro e não entra na cabeça senão em uma rasura tautológica: a falsa glória de passar de ano. Assim, o jovem não aprende tudo o que poderia, e está vulnerável a aprender tudo o que não deveria.
Jornal de Brasília - 29/2/2016
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