Mariana Távora
Promotora de Justiça do MPDFT
Ela carrega um bebê no colo. O mesmo colo que também abriga marcas arroxeadas.
Elas, as marcas, já perderam o tom soturno de uma noite não sonhada.
Eu a escuto.
Não quer que ele seja preso.
O medo ainda é menor que a compaixão.
No dia seguinte, uma sala lembra que o encontro é solene.
O vento quente pede entrada.
E, então, ela aparece, com seu bebê nos braços, mais uma vez.
Não mais consegue desejar. É que o medo a espreita. Parece estar a sussurrar.
Ele, o homem, ele, o dono do medo, comparece.
Ele conjuga o verbo desobedecer na primeira pessoa.
Eu, uma mulher, anuncio a prisão.
Outra mulher a confirma.
Ele nos desacredita.
O dono do medo me olha.
O medo me encontra, sem o véu que o afeto poderia sombrear.
Só vozes masculinas são capazes ali de fazê-lo crer.
O ano: 2016.
Igualdade?
Só o tempo não é capaz de trazer.
Jornal de Brasília - 8/3/2016
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