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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

 

No artigo anterior, fiz menção a um sujeito que aderiu ao nazismo assim que soube que Hitler, como ele, detestava tabaco. Tal pessoa era o avô do escritor cubano Guillermo Cabrera Infante. Já o bisavô deste era um emérito amante de charuto. Baforava do momento em que se levantava até a hora de dormir. Faleceu com deslumbrantes 103 anos. Sua mulher não produzia fumaça, mas mascava folhas de tabaco, o que a obrigava a andar pela casa sempre portando uma escarradeira de cristal. Só parou aos 91, quando morreu. Quando a imprensa localiza alguém de extraordinária longevidade, muitas vezes descobre que ela nunca levou um estilo de vida exemplarmente saudável, com alimentação balanceada, exercícios físicos e outros tipos de superstição. Mas tem que ter um segredinho, ora! Em resposta a essa inevitável indagação, já ouvi coisas do tipo "coma uma maçã por dia” e “ame mais”.

No Brasil, os nazistas devem estar organizados em entidades secretas ou fechadas, não em partido político. Já houve partido nazista aqui, parece que o maior do mundo fora da Alemanha, mas não mais. Partido só pode existir se estiver disposto a jogar o jogo da democracia, ou seja, respeitar suas regras; só assim se assegura a longevidade do regime. Por uma questão conceitual elementar, todos tentam ganhar, mas perder eleições e votações é coisa previsível e, ainda que de mau grado, aceitável. Não é dado se valer das ferramentas da democracia para destruí-la ao se chegar ao poder. Por isso, a lei brasileira (9096/95) tem sua “maçã diária”, que é o respeito à soberania nacional, ao pluripartidarismo e aos direitos individuais (art. 2º), além da proibição de se ministrar instrução militar ou paramilitar e se utilizar de organização da mesma natureza (art. 4º). Pensando bem, “amar mais” é uma boa ideia sim.

Jornal de Brasília - 2/5/2016

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