É provável que, no começo da década de 1570, William Shakespeare tenha sido matriculado na King´s New School, a escola de sua cidade, Stratford-upon-Avon. O horário de funcionamento era de 6 da manhã (7, no inverno) até 17 (ou 18) horas, com intervalo para almoço. Não havia férias. Ministrava-se aula o ano todo, todos os dias, menos domingo. Embora o ensino fosse gratuito, os estudantes deveriam levar o próprio material: vela, faca para afiar penas e um item bastante dispendioso, papel. Crianças de famílias muito pobres começavam a trabalhar desde cedo, não iam para o colégio.
O aluno já deveria entrar alfabetizado, o que se fazia domesticamente com um apetrecho chamado “hornbook”, uma tabuleta de madeira com um pergaminho que continha o alfabeto e o Pai-Nosso. Não se sabe quem ensinou Shakespeare a ler. Não deve ter sido sua mãe, pois ela, assim como a mulher e as filhas, apenas assinavam o nome ou faziam uma rubrica, mais nada. Elas jamais leram uma peça de William, até porque não eram impressas; nem os próprios atores manuseavam o texto integral, somente as respectivas falas, daí porque suas partes eram – e continuando sendo – chamadas de “roles” (rolos).
A escola de Shakespeare tinha cerca de 40 alunos (a cidade inteira contava com 2000 habitantes), todos do sexo masculino, entre 7 e 15 anos. O que se aprendia ali? Matemática, ou melhor, aritmética, e religião, em latim. A técnica pedagógica não poderia ser mais objetiva, a saber: exercícios extremamente repetitivos e castigos físicos em caso de fracasso. A violência era largamente aceita e utilizada, e isso não é coisa da Idade Média. Poucos anos atrás é que foi abolida em definitivo na Inglaterra; em escolas particulares, há menos de 20 anos. Nada de professores bonzinhos. Esperava-se que fossem severos.
Jornal de Brasília - 6/6/2016
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