Johannes Kepler nasceu em 1571, na Alemanha. Na época, tal país não era independente, e sim pertencia ao Sacro Império Romano, que englobava Áustria, Hungria, Eslováquia e República Tcheca. O território se fragmentava em diversos principados, ducados, condados e baronatos, com seus respectivos príncipes, duques, condes e barões. Cada qual determinava a forma de governo e a religião. Havia, ainda, as chamadas “freie Reichsstädte”, cidades livres, subordinadas ao soberano do império e não às autoridades locais. Weil der Stadt, onde Kepler nasceu, era uma delas.
Kepler frequentou uma escola alemã, mas os professores perceberam seu potencial e recomendaram educação de melhor qualidade, em latim. Ele atendeu, mas sua formação foi prejudicada em razão de problemas familiares e doenças. Depois, foi para um seminário inferior e outro maior. No primeiro, acordava às 4 horas (5 no inverno) e via o sol nascer cantando salmos. O resto do dia era dedicado a estudos bíblicos, com análise religiosa e gramatical dos textos. A técnica pedagógica consistia em repetição, repetição e mais repetição. O processo pode ter sido penoso; soa como tortura fazer a garotada madrugar para mastigar teologia luterana, mas o resultado foi estupendo, pois Kepler escrevia melhor em latim do que na própria língua materna, além de ler em hebraico e grego. No monastério maior, estudou retórica, dialética, música, aritmética e geometria. A rotina era difícil. As celas não eram aquecidas, comia-se em silêncio, era obrigatório o trabalho interno (faxina). Não havia muito espaço para brincadeiras, senão jogos intelectuais.
Na Inglaterra, Shakespeare também ia para a escola decorar e repetir latim. Já sabemos o resto da história: ao menos uma dezena de peças perfeitas e algumas dezenas de sonetos perfeitos.
Jornal de Brasília - 4/7/2016
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