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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

“Ninguém lê tolices impunemente” (Victor Hugo)

Shakespeare e Kepler foram dois grandes gênios que viveram na mesma época. Suas genitoras, Mary e Katharina, respectivamente, eram iletradas. A primeira, se tanto, teve instrução limitadíssima. A segunda, nem isso. Pode parecer irônico que a mãe do maior dramaturgo de todos os tempos não tenha lido nenhuma peça sua. E que a mãe de um gigante da matemática e da astronomia não tenha conseguido sequer ler as cartas do filho – ela tinha humildemente que pedir ajuda para terceiros –, muito menos seus livros.

É que, salvo exceções honrosas (como os raros casos de Benigna Fickler e Meg More) as mulheres da época não eram alfabetizadas. Mesmo entre homens, a prática não era de todo disseminada. O pai de Shakespeare, John, pode ser tomado como exemplo. Ele ocupou vários cargos públicos importantes, o primeiro deles, na casa dos vinte anos, o de provador oficial de cerveja. Depois, foi condestável, “affeeror”, carmelengo, bailio e membro do conselho legislativo de sua cidade. Mas não teve educação formal relevante e durante a vida toda assinou apenas com rubrica.

Camões, também contemporâneo de Shakespeare e Kepler, e outro digno representante da “Idade das Trevas”, foi vítima sobrevivente de um naufrágio. Quem não sobreviveu foi sua amada, a chinesa Dinamene. O manuscrito de sua obra-prima, “Os Lusíadas”, estava no navio. Reza a lenda que Camões preferiu sacrificar a mulher (não sei se era analfabeta) e salvar o livro. Essa versão simplifica de maneira grosseira e maldosa o desespero da situação, cujos detalhes estão perdidos para sempre. Acaso verdadeira, seria um patife o autor dos versos “Alma minha gentil, que te partiste/Tão cedo desta vida, descontente/ Repousa lá no Céu eternamente/E viva eu cá na terra sempre triste”.

Jornal de Brasília - 11/7/2016

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