Marta Eliana de Oliveira
Promotora de Justiça do MPDFT
Estamos sob o risco iminente de faltar água em Brasília. Eis uma crise que, por tantos alertas dados e ignorados, nada tem de inesperada. Embora ainda não críticos, os níveis dos reservatórios de Santa Maria, que abastece 75% do Plano Piloto, e do Descoberto, que abastece 65% do DF preocupam. Caso as chuvas tardem e a estiagem se prolongue, é concreto o risco de sofrermos uma grave crise hídrica. Tanto que a Adasa já avalia medidas para situações de escassez: campanhas educativas, racionamento e tarifa de contingência.
Como não foram atendidos os alertas para estancar a devastação do Cerrado, todos agora sofreremos as consequências dos impactos causados sobre os recursos hídricos pelos mais de 1.000 condomínios irregulares construídos no DF de forma desordenada, tornando inviável a instalação do reservatório programado para o rio São Bartolomeu.
Em 2007 foi dito: regularizaremos o que está consolidado e as coisas mudarão. Mas não mudaram. E não mudam por causa daqueles que ainda compram terrenos de grileiros, estimulando-os a parcelar novas áreas porque há quem compre. Dia após dia, surgem novas construções irregulares até em margens de rios e sobre nascentes e veredas, que estão secando, morrendo.
Além de deixar de lavar calçadas e de ostentar piscinas e gramados verdes, de fechar a torneira ao escovar os dentes e lavar a louça, de buscar soluções sustentáveis como o uso de água da chuva e o reuso de água cinza, precisamos pôr fim à cultura da invasão, do construir sem alvará, do comprar lote produto de ação criminosa. Basta desse jeitinho brasileiro de ludibriar normas para obter vantagem seguir prejudicando a qualidade de vida de todos e os recursos que deveríamos legar aos nossos filhos.
Cabe a nós impedir que Brasília transforme em túmulo o berço das águas onde nasceu.
Jornal de Brasília - 18/7/2016
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