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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Em “Max”, Sarah Cohen-Scali romanceia um dos programas mais macabros do nazismo, o chamado “Lebensborn”. Idealizado pelo número 2 do regime, Heinrich Himmler, sob comando de Gregor Ebner, o projeto fomentava a reprodução de homens e mulheres selecionados para a geração de bebês com alto nível de pureza racial. A raça ariana, a única verdadeiramente merecedora de existir, era subclassificada nas espécies “nórdica”, “westifaliana” e “dinárica”. Somente uma pessoa encarnava a união perfeita de todas elas: o Führer em pessoa, Adolf Hitler.

Se o recém-nascido fracassasse em algum quesito contemplado nos protocolos médicos – peso, comprimento das partes, índice cefálico, cor da pele e dos olhos, dentre vários outros --, era incontinenti “reinstalado”, o que significava dizer: eliminado. O próprio doutor Ebner se encarregava disso. Nos arquivos, ficava constando a expressão “natimorto” e a procriação malsinada era objeto de investigação para se apurar hipótese de falsificação do certificado de arianidade do pai ou da mãe. Se a criança vingasse, seu assentamento não era feito nos registros civis normais, com os apelidos de família; ela era levada à adoção por casais escolhidos a dedo. As melhores crias eram destinadas às famílias mais proeminentes.

O acasalamento era tido como um honroso dever para com a pátria, assim como a gestação, o parto e a adoção. Mas a glória máxima consistia em ser fruto do programa. Estima-se que 8.000 na Alemanha e entre 8.000 e 12.000 na Áustria, Noruega, França e Bélgica poderiam se orgulhar de sangue comprovadamente puro em seu sistema circulatório. Sua vida estaria sob controle das autoridades estatais desde a concepção até a farda da SS que um dia trajaria, se menino, ou, se menina, os muitos filhos que tivesse para ajudar a repovoar a Europa.

Jornal de Brasília - 25/7/2016

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