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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Para o homem da rua, intelectual é uma coisa bastante longínqua, incompreensível e, claro, meio bicha (Millôr Fernandes).

Embora ostentasse o título de “matemático imperial”, a posição cotidiana de Kepler não era tão majestosa quanto a imaginação cortesã atual possa supor. O soberano o tratava como um vassalo com privilégios quirografários.

O povão o via como um “observador de estrelas”, não muito diferente de uma malta de feiticeiros que abundavam na época - alguém, portanto, a inspirar mais temor que admiração. Além disso, ele era astrólogo, fazia mapas e previsões por encomenda, assim como os mais respeitáveis cientistas da época, como Tycho, Mástlin e Galileu.

Nessa emulsão de química e alquimia, havia ainda o ingrediente da medicina. A administração de remédios e tratamentos andava a cavaleiro com a interpretação dos movimentos celestes. Eventuais insucessos terapêuticos provocavam, além de complicações para saúde, revoltas e acusações de charlatanismo e bruxaria.

Molière, que chegou a ser contemporâneo de Kepler, em peças como “Doente imaginário” e “Don Juan”, dentre várias outras, zombava ferozmente dos médicos, acoimando-os de vigaristas de marca maior.

O pior era que o império realmente estava infestado de impostores; a olho nu, não é fácil distinguir um intelectual de um pseudo-intelectual, e o que o imperador desejava era qualquer saber que se convolasse em poder.

Mas Kepler era diferente. Ele acreditava que o verdadeiro conhecimento estava na observação, ou seja, no esforço de aproximação e domínio da realidade, não no misticismo das simpatias cósmicas.

Ele era astrólogo por razões financeiras, mas achava essa atividade, posto que válida, pouco confiável, apenas sugestiva. Era um astrólogo com alma de astrônomo. Era um astrônomo com alma de teólogo.

Jornal de Brasília - 15/8/2016

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