Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
A decisão do impeachment no plenário da Câmara foi diferente da do Senado. Neste houve momentos de turbulência. Mas, com número bem maior de integrantes e escrutínio oral, o procedimento na Câmara foi mais agitado, passional e tenso; um deputado chegou a cuspir no rosto de um colega. A diferença é da substância de uma e outra casa. O modelo bicameral, importado do gênio americano, pautou-se por um princípio federativo desconcentrado, que garantiria participação igual — e mais madura — de cada estado no Senado.
No congresso dos EUA também houve uma cusparada, há dois séculos, precisamente em 1800, quando estavam violentas as relações entre os dois partidos da época, o democrata-republicano (sic) e o federalista, que apoiavam, respectivamente, Thomas Jefferson e John Adams. Embora fossem de partidos diferentes, Jefferson era o vice-presidente de Adams. Eles se conheceram antes da independência, em 1775, no Congresso Continental. Depois, serviram como diplomatas, Adams em Londres e Jefferson em Paris. Este visitou aquele e juntos viajaram para Stratford, terra natal de Shakespeare. Depois, por razões de natureza política, separaram-se com azeda dose de desa-feição.
Em 1811, Adams escreveu uma carta a Jefferson, num esforço de reconciliação. Eles passaram a se corresponder longamente; tinham respeito e consideração um pelo outro, e saudades. Em suma, esses dois estadistas eram amigos, tornaram-se inimigos e morreram amigos — literalmente, pois faleceram no mesmo dia, 4 de julho de 1826, exatamente 50 anos após a ratificação da Declaração da Independência dos EUA Diz a lenda que as últimas palavras de Adams, no leito de morte, foi “Jefferson still survives”.
P.S. Não falarei mais sobre esse assunto, que é objeto do meu próximo livro. Livro é livro, artigo é artigo.
Jornal de Brasília - 13/9/2016
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