Dênio Augusto de Oliveira Moura
Promotor de Justiça do MPDFT
Não deixa de ser um paradoxo nos vermos imobilizados justamente pelas máquinas que inventamos para facilitar nossa locomoção. O problema não está na invenção em si – o automóvel, que tantos avanços trouxe para a sociedade –, mas no uso que fizemos e continuamos fazendo dela. De fato, o que já foi sinônimo de liberdade, símbolo de status e sonho de consumo hoje é fonte de conflito, estresse e morte. Apesar disso, é incrível como ainda somos física e psicologicamente dependentes dessa engenhoca, capaz de revelar os instintos atávicos que existem em cada bonus pater familiae.
Uma mudança de paradigma normalmente é precedida de muita desconfiança e resistência. Porém, estamos muito atrasados em relação a outras nações, que há muito já perceberam que o carro não é mais a solução para as necessidades atuais. Insistir nesse modelo ou é estupidez ou é má-fé. Quanto mais do nosso chão vai se transformar em leito para o que Drummond chamou de “rio de aço do tráfego”? Quanto mais de nossa qualidade de vida vai ser sacrificada em prol de um modelo que já se mostrou exaurido?
Ao contrário do que parece, esta é uma decisão que não depende apenas dos governos. Em uma sociedade realmente emancipada, governos existem justamente para cumprir as escolhas dos cidadãos que a integram. Bauman ensina, por outro lado, que, em uma ordem social doente, a falta de um diagnóstico adequado é parte crucial e talvez decisiva da doença. No caso da mobilidade urbana, parece claro que a cura passa, necessariamente, pela percepção de que somos parte do problema.
Na próxima quinta-feira, dia 22 de setembro, será celebrado mais um Dia Mundial Sem Carro, uma excelente oportunidade para refletirmos sobre o amanhã que queremos construir. Experimente!
Jornal de Brasília - 19/9/2016
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