Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Ortega y Gasset dizia que a sociedade é “sempre uma unidade dinâmica” de dois fatores: massas e minorias. Aquelas são “o conjunto de pessoas não especialmente qualificadas”. Estas são sua nêmesis, ou seja, os “indivíduos ou grupos de indivíduos especialmente qualificados”. “Massa” é uma designação de seres humanos, não um conceito geográfico ou econômico. Existem ricaços-massa e pobretões de “almas admiravelmente disciplinadas”.
Massa é um “fato psicológico”, uma qualidade perceptível diante de um único exemplar de carne e osso. Pior do que ser vulgar ou ordinário, o homem-massa “não se angustia com isso, sente-se bem por ser idêntico aos demais”. E ainda: orgulha-se de ser mal dotado, acha que o que ignora não tem importância, desdenha dos que se aperfeiçoaram pelos estudos e que tomaram os caminhos menos cômodos na vida. Esse gênero só quer saber de prerrogativas, privilégios, vantagens, títulos (os nobiliárquicos foram substituídos pelos acadêmicos; a olho nu não é fácil distinguir um intelectual de verdade e outro de araque), prêmios e prazeres. Querem ser burgueses por força de autoridades opacamente constituídas. Querem poder, querem mandar nos outros, querem impor sua mediocridade, suplantando os bons sem se qualificarem plenamente para tanto. Ortega chamava esse fenômeno de “subversão sociológica” e “rebelião”.
As minorias são compostas por indivíduos diferenciados porquanto exigem muito de si mesmos e se acumulam de dificuldades e obrigações. A formação de uma ideologia própria se sedimenta em blocos exclusivistas, mas somente em um segundo momento. Antes, a separação da multidão se dá em um nível estritamente particular, egrégio, especial, que o vulgo confunde com petulância, e que consiste em uma recusa existencial, em “uma coincidência em não coincidir”.
Jornal de Brasília - 21/11/2016
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