Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
1 - Maria Francisca Isabel Josefa Gertrudes Rita Joana é conhecida no Brasil como “A Louca”. Em Portugal, onde foi rainha a partir de 1777, entrou para a história com epíteto bem mais aprazível: “A Piedosa” ou “A Pia”. Em 1792, foi interditada por doença mental, atestada em laudo subscrito por nada menos que 17 especialistas, e o governo passou às mãos do filho, d. João VI (O Clemente), pai de Pedro I, avô de Pedro II e bisavô de Isabel. D. Maria veio com a família real para cá, no afogadilho da debandada das tropas de Junot (que acabaram se revelando mais um Exército de Brancaleone, maltrapilho e amador). Na ocasião, nas profundezas de sua inidoneidade mental, soltou frase famosa que na verdade é uma pérola de lucidez: “não vamos embarcar tão devagar, que pareça provocação, nem tão rápido, que pareça fuga”.
2 - Um sujeito chamado John Shillibeer esteve nove dias em São Sebastião do Rio de Janeiro, mais exatamente entre 20 e 28 de março de 1814. Esse período de nossa história ficou conhecido como “joanino”, por conta da presença de Dom João VI, príncipe-regente de Portugal, e de toda a corte lisboeta, pelos motivos apontados no parágrafo acima. Shillibeer escreveu sobre a cidade. Afirmou que os comerciantes portugueses e ingleses eram “todos inescrupulosos”, principalmente os primeiros, que acoimou de “mestres em velhacaria”. Era grande a procura por diamantes mas tal segmento era demasiado arriscado: de cada dez pedras, nove eram falsas. As casas e ruas eram sujas, as edificações (teatro, igrejas e até o palácio imperial) eram modestas, sem sofisticação. O comércio era variado e bem abastecido, principalmente por produtos da China, que podiam ser adquiridos “a preço baixo”. E o viajante concluiu: “o povo ama a desonestidade e não é menos escravo de suas manias”.
Jornal de Brasília - 28/11/2016
O MPDFT informa que todos os textos disponibilizados nesse espaço são autorais e foram publicados em jornais e revistas. Eles são a livre manifestação de pensamento de seus autores e não refletem, necessariamente, o posicionamento da Instituição.