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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Não vou exatamente defender Ryan Lochte, o nadador aloprado. Ele mesmo reconheceu que deu declarações falsas e respondeu a procedimento junto à Justiça; saiu daqui fugido. Foi punido por sua entidade esportiva e até perdeu patrocínios milionários. Parece que não é benquisto em seu país, os EUA, apesar do currículo de recordes mundiais e invejáveis doze medalhas olímpicas, seis delas de ouro.

O que realmente nos incomoda é o fato de que Lochte botou o dedo em uma ferida aberta. Ele não foi assaltado, mas bem que poderia ter sido. Isso é corriqueiro no país, especialmente em uma metrópole como o Rio de Janeiro. Em vez de enfrentar a realidade da violência que sofrem turistas estrangeiros (para não falar dos nacionais e dos locais), ficamos agastados quando alguém de fora diz que ela existe. Se Ryan tivesse sido assaltado e ido à polícia e à imprensa para revelar o ocorrido, nós ficaríamos com um misto de vergonha e raiva. Como isso não aconteceu, fica só a raiva. Aproveitamos o pretexto para lavar a alma nacional, mesmo que o alvejante tenha cheiro de emoção barata, de vingancinha histérica, de ranço por um quadro de medalhas raquítico que funciona como símbolo da história. É fácil provar: se Ryan fosse um zé-ninguém de uma republiqueta africana ou de uma ilhota perdida na Melanésia, a gente não teria perdido tanto tempo.

Observem que, por um momento, por um momento apenas, ele poderia ter imaginado que estava, sim, sendo vítima de um assalto. Dois seguranças sacaram armas de fogo e fizeram determinações – que Ryan e colegas não entendiam, em razão do idioma – pela quebra de uma placa publicitária barata. Reflitam os que são da área criminal se isso é juridicamente aceitável.

P.S. Este é meu artigo de número 400 no Jornal de Brasília, o melhor jornal do mundo.

Jornal de Brasília - 8/3/2017

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