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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

As palavras “pensador”, “estudioso”, “filósofo”, “autor”, “culto”, “erudito”, “gênio”, “genial”, “sábio”, insinuam significados próximos, mas é intuitivo que não são sinônimos perfeitos. Alguma diferença deve existir entre elas. O problema é que os consensos neste território são demasiado precários. Tudo depende da maior ou menor generosidade ou moderação de quem emprega e de quem acolhe os vocábulos em questão.

“Intelectual”, por exemplo, opõe-se aos que desempenham serviços braçais, como operários de construção ou pintores de parede. Um advogado aí se encaixa porque precisou desenvolver leituras e textos, não atividades físicas, para obter seu diploma e exercer sua profissão. Mas não é impossível que ele não tenha lido nada de escritores fundamentais de sua língua, nem Machado de Assis na escola. Talvez sem nunca ter ouvido falar das célebres controvérsias que moldaram a ciência do direito e incapaz de mencionar e muito menos explicar uma teoria jurídica sequer, limitou-se a mascar manuais e obras de efeito instantâneo, com os quais se contenta, a ponto de cultivar certo desdém por discussões de maior nível de abstração. Nesse sentido, a palavra “intelectual” é notoriamente inadequada.

Filósofo é quem tem uma filosofia. Quem ensina filosofia alheia é professor ou historiador; pode até ser muito competente (ou “especialista”, se isso lhe cair bem), mas filósofo não é. Poeta é quem redige poesia; quem apenas lê e comenta é crítico, ainda que tenha bagagem literária mais sólida do que a do próprio poeta. Se a produção é boa ou ruim é outra discussão. Cinna, personagem de Shakespeare em “Julio Cesar” (ato 3, cena 3), é cercado por plebeus e confundido como conspirador. Ele se defende, dizendo que era poeta. Não adiantou nada. Foi atacado e morto pelos maus versos.

Jornal de Brasília - 13/3/2017

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