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Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT

Os brasileiros não toleram quando um estrangeiro vem para cá e fala mal da terrinha. Nem um pequeno deslize é perdoado. O chef de cozinha inglês Jamie Oliver, por exemplo, experimentou brigadeiro, quindim e beijinho. Não gostou. Achou tudo isso “a load of old shit”. É bem verdade que falou em nítido tom de blague (os brasileiros não reconhecem o senso de humor britânico). É também verdade que a entrevistadora insistia em dizer que nosso paladar é viciado por doce com açúcar em excesso, e que a matéria está muito editada. Talvez AQUELES docinhos não estivessem lá grande coisa.

Mesmo assim, nosso orgulho ficou ferido, a alma nacional foi ameaçada, a cultura brasileira, manchada. Por quem? Ora, por um cozinheiro de meia tigela, vindo de um país de clima ruim, de futebol pior, de gente fria. País cujo prato típico é batata e peixe fritos, consumido com vinagre malt e cerveja morna! Negativo! O gringo tem sim de gostar de açaí, garapa, pastel, empada de palmito, pamonha, caipirinha, Havaiannas. Tem de jurar que nossas praias são incríveis, assim como o ritmo do samba, da música baiana, a hospitalidade sem igual do nosso povo. As mulheres na praia, rapaz! Coisa de louco!

Japoneses foram a estádios pátrios durante a Copa e recolheram lixo. Lixo que não produziram. Lixo dos outros. Guardanapo usado, saco de salgadinho, garrafas de plástico, canudos, o diabo. Nós ficamos com vergonha, constrangidos com a urbanidade deles (depois descobrimos que não há faxineiros nas escolas e são as próprias crianças que limpam os banheiros!), mas não aprendemos a lição. Continuamos a emporcalhar tudo como se nada tivesse acontecido.

E aquele nadador americano? Ele é tudo o que abominamos: americano, boa-pinta, vencedor. Ou melhor, quase tudo. É meio picareta. Meio picareta nós não abominamos não.

Jornal de Brasília - 3/4/2017

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