Qual o significado do trabalho para as mulheres em situação de violência doméstica? Essa pergunta é o ponto de partida da pesquisadora da Universidade Católica de Brasília, Suzana Canez, que desenvolve projetos em parceria com a Promotoria de Justiça de Ceilândia.
Durante o mês de setembro, a pesquisadora e sua equipe entrevistaram mais de 60 mulheres vítimas de violência doméstica com o objetivo de mobilizá-las para a realização de oficinas de discussão do papel do trabalho na vida da mulher. Os resultados iniciais comoveram estudantes e profissionais. "Como a Carolina, da música de Chico Buarque, parece que elas não viram o tempo passando lá fora, consumidas pela dura realidade dentro do lar", resume um aluno. A maioria das mulheres entrevistadas trabalha na informalidade. São empregadas domésticas, feirantes, manicures, comerciárias, cozinheiras, babás, dentre outras profissões que incluem o cuidado com terceiros.
Embora a violência doméstica atinja mulheres de todas as classes sociais, os dados estatísticos da Justiça Criminal indicam uma maioria esmagadora de vítimas oriundas de famílias menos favorecidas social e economicamente. Talvez porque enquanto as mulheres das classes mais favorecidas tenham a seu dispor várias alternativas para se proteger da violência doméstica, para as demais sejam negados tais recursos, não restando a elas senão recorrer à delegacia de polícia e ao Judiciário. "Estender a essas mulheres o acesso a serviços de assistência jurídica, psicológica, educacional e de inserção no mercado de trabalho é um dos grandes desafios que a Lei Maria da Penha nos coloca. Isso sim é proteção integral", afirma a Promotora de Justiça Alessandra Morato.
A falta de creches onde os filhos possam ficar enquanto trabalham é uma queixa muito comum entre as entrevistadas. Muitas associam a importância do trabalho com o sustento dos filhos e não necessariamente como meio de realização pessoal. "Nosso objetivo é refletir com elas sobre o significado do trabalho em suas vidas. Que lugar lhes é oferecido? Que postura se espera de uma mulher no chamado espaço público do trabalho? O que acontece quando a mulher recusa esse papel social? Como podemos agir para mudar essa realidade?", explica a pesquisadora Suzana Canez. As oficinas com as entrevistadas interessadas serão realizadas em quatro encontros nos meses novembro e dezembro de 2009, no campus da Universidade Católica de Brasília, em Taguatinga/DF. As oficinas integram as ações desenvolvidas pelo Projeto SempreViva de proteção integral à mulher de Ceilândia/DF.