Teve início, na manhã desta quarta-feira, o II Ciclo de Capacitação em Gênero, Cidadania e Violência, promovido pelo Núcleo de Gênero do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Hoje e amanhã, representantes do Ministério Público, do Tribunal de Justiça, do Governo do Distrito Federal, da Polícia Militar e da sociedade civil estarão reunidos para discutir temas relacionados ao enfrentamento da violência doméstica.
Na abertura do evento, a Procuradora-Geral de Justiça, Eunice Carvalhido, deu as boas-vindas aos participantes. "Esta é uma oportunidade para refletir sobre mitos e verdades ligados à violência doméstica", afirmou. A Secretária da Mulher do Distrito Federal, Olgamir Amancia Ferreira, lembrou o aspecto cultural da violência: "as pessoas não nasceram com a lógica da dominação". Para a Coordenadora do Núcleo de Gênero do MPDFT, promotora de Justiça Danielle Martins Silva, o rompimento do ciclo de violência começa com a própria mulher, de dentro para fora. "Por isso, espero que o conhecimento possa ser compartilhado", finalizou.
A primeira palestra do dia foi proferida pelo Coordenador do Núcleo de Atendimento às Vítimas e Famílias da Secretaria da Mulher do DF, Luis Henrique Aguiar. O tema da discussão: "Sensibilização sobre os conceitos de gênero, feminilidades e masculinidades". O psicólogo iniciou o discurso falando sobre as conquistas da mulher ao longo da história e expondo os movimentos feministas de luta por direitos iguais, como o direito ao voto, acesso à educação, melhores condições de estudo e o exercício de determinadas profissões. Para ele, há uma incapacidade natural de explicar as diferenças importantes entre homens e mulheres. "Não há como estudar um gênero separado do outro. Temos que estudar a relação dos dois e tentar encontrar um ponto de equilíbrio", disse.
O profissional relatou, ainda, algumas experiências nos núcleos de atendimento pelos quais passou. Segundo ele, grande parte dos homens não reconhece suas fraquezas, principalmente devido a fatores culturais, que desde muito cedo são responsáveis por inibir as emoções. Desta forma, muitos deles sequer reconhecem ou são capazes de assumir a agressão e, dificilmente, aceitam tratamento psicológico.
A segunda palestra, apresentada pelo psicólogo Fabrício Guimarães do Serviço de Atendimento à Família em Situação de Violência (Serav), do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, teve como tema "Violência doméstica: Mitos, Realidade e Atuação Profissional". Durante a explanação, Guimarães fez a comparação de dois casos de violência sexual, esclarecendo que, grande parte das vezes, o crime pode ser cometido por pessoas próximas, como familiares e parentes da vítima. Para ele, durante os atos de violência ocorre a objetivação do agredido (a). "Para agredir alguém, transformamos a pessoa em objeto. Nossas vontades se sobrepõem e justificamos o erro como algo banal".
O psicólogo falou ainda sobre os cinco principais mitos da violência doméstica, exemplificando os motivos que permeiam a agressão e como eles têm sido enfrentados pelas mulheres. Segundo ele, as mulheres agredidas têm muito medo de procurar ajuda e não serem compreendidas. Muitas delas são comumente mais 'julgadas' que os próprios agressores.
Ao final, foi aberto espaço para perguntas e muitos expuseram a ineficácia dos serviços de atendimento nas várias vertentes do problema, como o despreparo dos profissionais de saúde e de segurança nestes casos.
A promotora de Justiça Danielle Martins Silva finalizou o evento expondo sua opinião sobre o despreparo apontado. "O investimento em recursos humanos e capacitação é o melhor investimento que pode ser feito nessas instituições. Precisamos investir nisso. Espero que esse ciclo seja o início de um envolvimento maior", concluiu.