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O chamado “Homem de Piltdown” chegou a ser celebrado por décadas como um achado de extraordinário valor antropológico. Inaugurou gênero próprio e desfrutou de todas as honras que poderia merecer. Mas era uma mentira monstruosa, pois se tratava de um cérebro humano moderno enxertado por uma mandíbula de orangotango.
O que intriga nesse caso são duas coisas.
A primeira é que foram autoridades respeitabilíssimas que homologaram a farsa. Sir Arthur Keith foi o principal paleontólogo de sua época, guardião da Coleção Hunter da Escola Real de Cirurgiões e ex-presidente do Instituto de Antropologia. Sir Arthur Woodward era considerado a maior sumidade do mundo em fósseis de peixes, e foi o curador dos museus Britânico e de Geologia Britânico. Pierre Teilhard de Chardin era um jovem francês brilhante, padre, teólogo e paleontólogo; estava na trincheira quando Charles Dawson fez a suposta recuperação.
Izis Morais Lopes dos Reis
Assistente Social do MPDFT
Ao chegar em casa hoje, 17 de outubro, liguei o computador. Entre as várias bobagens que (todos!) nós acessamos, na minha timeline do Facebook havia uma série de postagens sobre um mendigo bonito de Curitiba. As pessoas se perguntavam se, para aquele moço, alguém negaria casa (comida e roupa lavada). O tom era de brincadeira, claro. Mas não deixou de me causar incômodo. Minha noite já está na metade e as angústias não acabaram ainda. Deve ser falta de vinho, minha irmã concordaria. Como qualquer chacota, a divulgação do mendigo bonito revela as perversidades de nossa ordem social, cultural, moral.
Os nós na minha garganta são vários e tentarei ser breve. A primeira coisa que me vem à cabeça é que, no dia a dia, nós ignoramos a pobreza extrema, a profunda desigualdade social, a falta de insumos básicos para uma vida digna (casa, cama, cobertor). Em segundo lugar, nós legitimamos o reinado do higienismo que faz das pessoas que vivem nas ruas e delas tiram seu sustento partes indesejáveis, abjetas, possíveis alvos das maiores chacinas urbanas da atualidade.