Durante o evento, foi destacada a responsabilidade social da imprensa na cobertura dos casos de violência de gênero e proposta a construção de diretrizes para a cobertura midiática
A promotora de Justiça Gabriela Gonzalez, do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT), participou na manhã desta terça-feira, 6 de fevereiro, do encontro “Estratégias de políticas de prevenção ao feminicídio”. O evento reuniu representantes de órgãos de segurança pública e justiça para apresentações e trocas de experiências com jornalistas.
A atividade, realizada no Centro Integrado de Operações de Brasília (Ciob), foi coordenada pelo secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, e contou também com a presença da vice-governadora Celina Leão. Na primeira palestra, o coordenador da Câmara Técnica de Homicídios e Feminicídios da SSP, Marcelo Zago G. Ferreira, e o subsecretário de Inteligência, George Couto, apresentam dados dos feminicídios no mundo e no DF e uma análise de recorrência do crime no período de 2015 a 2023. Eles também divulgaram para o público um painel do Qlik Sense, disponível no site da SSP, com dados oficiais da Secretaria sobre os feminicídios ocorridos no Distrito Federal.
Em seguida, a promotora Gabriela Gonzalez explicou sobre a pesquisa realizada para sua tese de mestrado sobre o efeito copycat nas coberturas midiáticas sobre feminicídios. Para o estudo, foram analisadas 173 reportagens dos principais portais de notícias do DF sobre os 33 feminicídios ocorridos em 2019. Ela apresentou dados e pesquisas que revelam que o efeito copycat, ou de contágio - que significa uma onda de ocorrências ou fatos similares após determinado incidente ser noticiados - parece ser típico, por exemplo, quando ocorrem feminicídios amplamente divulgados em notícias que não apresentam viés de proteção e de responsabilização.
Além disso, apresentou dados estáticos fornecidos pelo Núcleo de Defesa à vida, extraídos do
sistema Verum do MPDFT, sobre os feminicídios ocorridos entre 2018 e 2023, os quais indicam alguns acúmulos dos feminicídios em datas próximas, sinalizando a necessidade de atenção na divulgação de tais notícias.
“Apesar dos avanços no âmbito legal (Lei Maria da Penha e inclusão da qualificadora do feminicídio), a mudança dos dados de violência contra as mulheres encontra resistência cultural em posturas conservadoras e misóginas historicamente enraizadas. Nessa perspectiva, a mídia pode desempenhar papel fundamental estimulando frequentes e qualitativos debates sociais sobre a violência contra as mulheres que possibilitem combater estereótipos, articulando novas mentalidades e impulsionando mudanças de comportamentos”, avalia a promotora de Justiça.
A proposta dos organizadores foi oferecer uma reflexão coletiva sobre o tema, a partir de dados estatísticos e estudos de caso, além de proporcionar integração entre imprensa e representantes dos poderes públicos. A próxima etapa será a elaboração de um guia com diretrizes para coberturas mais informativas, descritivas, mais humanizadas, não-revitalizadoras e com acesso a diversas fontes.
“A mídia pode desempenhar um efeito protetor ao veicular matérias informativas sobre a rede de proteção, conseguindo atingir um número maior de vítimas, inclusive aquelas que não procuraram o Sistema de Justiça. Os feminicídios precisam ser veiculados, mas precisamos debater formas de abordagem capazes de proteger as vítimas. Por isso, o debate de hoje foi tão relevante e necessário para construir reflexões e fortalecer parcerias.”, completou Gabriela Gonzalez.
Participaram diretores de redação e chefes de reportagem dos principais veículos de comunicação locais. Também estiveram presentes a promotora de Justiça e coordenadora do Núcleo de Gênero do MPDFT, Adalgiza Aguiar; a secretária da Mulher Giselle Ferreira; as juízas do Núcleo Judiciário da Mulher Luciana Rocha e Fabriziane Zapata; as comandantes-gerais da Polícia Militar (PMDF), Ana Paula Habka, e do Corpo de Bombeiros (CBMDF), Mônica de Mesquita; além de outras autoridades e representantes da Defensoria Pública (DPDF), da OAB-DF, da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto Patrícia Galvão.