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Karl Popper dizia que o paradigma da realidade é alguma coisa que uma criança possa pegar e colocar na boca. Mesmo entre adultos, o conhecimento é familiar quando seu objeto é diretamente percebido, ou seja, visto, manipulado, domesticado, transformado, haurido, até estragado, destruído, comido. Temos dificuldade para lidar com coisas minúsculas, como seres microscópicos, ou imensas, como planetas distantes, o que somente pode ser compreendido por fórmulas matemáticas com muitas potências ou unidades de medida excessivamente artificiais. Aqui, as palavras já não definem com precisão os substantivos nem seus adjetivos: afinal, a expressão “planetas distantes” não se aplica a Júpiter e a Netuno, tal e qual.
Vitor Fernandes Gonçalves
Procurador de Justiça do MPDFT
No famoso estudo sociológico escrito no longínquo ano de 1936, Sérgio Buarque de Hollanda já assinalava como nós, brasileiros, herdamos dos portugueses, um povo aventureiro por excelência, um individualismo e um livre-arbítrio exacerbado, no que resultou entre nós uma sensível repulsa tanto da noção de supremacia da lei, como dos próprios valores da coletividade e da solidariedade. Cada brasileiro age, então, como se fosse um país em si mesmo, dotado de soberania, de modo que somente considera cumprir a lei se e somente se reputá-la justa e adequada, raciocínio que se repete toda vez que tiver de considerar concretamente sua aplicação. De fato, consoante assinala o sociológo citado, “os elementos anárquicos sempre frutificaram aqui facilmente, com a cumplicidade ou a indolência displicente das instituições e costumes” (cf. Raízes do Brasil, 27ª edição, São Paulo: Companhia das Letras, 2014, p.37)