O MPDFT informa que todos os textos disponibilizados neste espaço são autorais e foram publicados em jornais e revistas.
Eles são a livre manifestação de pensamento de seus autores e não refletem, necessariamente, o posicionamento da Instituição.
Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Diógenes Coimbra
Filósofo
Mortos seus pais, Aleixo e Silvia, o órfão Douglas quis levar a vida à solta. Se seus pais tinham, por infortúnio do destino ou por fraqueza de caráter, desistido da vida, Douglas, ao contrário, queria segundo de sua existência efêmera. Não bebia nem fumava. Não queria abrir as portas da Sorte ao azar que tolhera seus pais. Só não era um monge nem um ermitão porque não cria senão no aqui dos desejos e no agora das sensações. Mais do que tudo, aventurava-se nos esportes radicais. De píncaros alvíssimos a desertos inóspitos, de selvas impenetráveis a mares revoltos, Douglas nada temia: escalava, saltava, velejava. Viver era transcorrer o tempo transpondo lugares.
Ivaldo Lemos Junior
Promotor de Justiça do MPDFT
Diógenes Coimbra
Filósofo
Sepultado Aleixo, o suicida inconfesso, Silvia, a viúva, também entrega os pontos. Eis o fato: entorpecida de barbitúricos, mais duas ou três taças de vinho, Silvia deixa o funeral do marido. Sob fina garoa, o sol já se amiúda no horizonte. Poente poético, multicor. Não será essa a visão da inconsolável viúva, senão a do clarão de dois faróis, último raio de luz a lhe invadir as pupilas, as dela e as dos outros passageiros que vinham no carro em sentido contrário.